Anda a circular uma mensagem no Facebook, cuja veracidade não consegui apurar (encontrei a mesma mensagem em sites e blogs com datas muito variadas e zero fontes), de uma cidadã portuguesa que está indignadíssima com os Funcionário Públicos e com a Função Pública em geral. Ou funcionalismo público, como a própria lhe chama.
Como eu a compreendo minha amiga, como eu a compreendo. Posso chamá-la de minha amiga não posso?
Posso com certeza. Uma pessoa que me chama de merdosa, assim, logo à cabeça, é porque é minha amiga. Logo à cabeça é exagerar, ainda se aguentou uns cinco ou seis parágrafos.
Mas vamos com calma. Primeiro vamos lá ler a tal cartinha, supostamente, dirigida à Segurança Social pela Sr.ª D.ª Joana-vai-com-as-outras e depois vamos então espremer o assunto.
"Exmo. Sr. Presidente do Conselho Directivo ARS Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro,
Venho por este meio, muito agradecer a carta recebida em nome da minha mãe, a avisá-la que há mais de 3 anos que não se apresenta em nenhuma unidade de saúde de cuidados primários da Administração Regional de Saúde, e por isso irá perder o direito ao médico de família.
Venho informá-lo que o motivo desta falta de comparência, nas unidades de saúde, deve-se ao facto de ela ter falecido há 7 ANOS !!! Já agora,faleceu num Hospital Público, imagino que você não tenha acesso a esses dados na posição que ocupa, o único motivo que me ocorre para não ter acesso a esses dados, é a sua incompetência e de todo o funcionalismo público que eu pago com os meus impostos !!!
CASO TENHA DÚVIDAS SOBRE O SEU FALECIMENTO, consulte as finanças e a segurança social (informadas 2 dias a seguir ao seu falecimento), tendo em conta que hoje em dia existe uma coisa chamada rede informática, não dará muito trabalho cruzar dados, mas como vocês não conhecem a palavra trabalho, só fazem figuras tristes como estas e fazem-nas com o meu dinheiro e sem qualquer tipo de qualidade e profissionalismo do trabalho que desempenham, não querem saber de nada nem de ninguém (esta carta inútil, desnecessária, de mau gosto, insensível e de incompetentes, foi paga com o meu dinheiro, e eu estou sinceramente farta de sustentar todos os otários que conseguiram um trabalho porque souberam "chupar" no sitio certo !!!).
Agradeço que comecem a trabalhar que é algo que eu faço desde os 17 anos. Nunca recebi um tostão do estado, nem quando a minha mãe esteve a morrer e a minha família deu o que tinha e não tinha para lhe proporcionar alguma qualidade, no momento que mais precisou, depois de ela própria ter descontado uma vida inteira. Porque vocês acharam que a pensão de miséria que ela tinha direito, por invalidez, chegava mais do que bem para tratar de alguém completamente acamado, aos cuidados de terceiros e em estado vegetativo !!! Muito obrigado por fazer a minha família reviver isto novamente !!! Já agora todos os cuidados pagámos nós de forma privada !!!
Tenho vergonha ao que este país chegou ! E são pessoas como o senhor que deveriam estar no desemprego, pois pelos vistos nem para cruzar listas de dados, o senhor tem capacidade !!!
Divulgo isto no Facebook, porque imagino que é onde passa o dia, e assim mais depressa lhe consigo transmitir a minha mensagem do que por uma carta registada !!!
Agradeço a toda a gente que divulgue isto, porque é para merdas como estas e merdosos como este senhor que todos os meses temos menos dinheiro para viver, é para estes incompetentes andarem a fingir que trabalham e a gastar mais uma vez, MAL, o nosso dinheiro, que nós todos os dias andamos a contar os cêntimos !!!!!!
Já agora o código de activação que envia na carta, para ela poder avisar que pretende ainda ser vista nas unidades de saúde, pode metê-lo num sítio onde o sol não entra, espero ter sido clara !!!"
Se fosse eu o FP que recebeu esta carta, teria respondido, parágrafo por parágrafo, assim:
"Exmo. Sr. Presidente do Conselho Directivo ARS Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro,
Cara Joana, acha mesmo que sou eu, Luís Cunha Ribeiro, quem lhe vai responder? E acha mesmo que fui eu quem lhe escreveu a carta que recebeu? E acha mesmo que há uma só pessoa que controla isto tudo e conhece todos os cantos e recantos à casa? Infelizmente a pessoa que neste momento lhe vai ter de responder é, muito provavelmente, alheia a esta situação e está completamente desorientada com o tipo de resposta que lhe há-de dar. Coitado deste FP por não o poder fazer nos mesmos termos em que a senhora o fez. Porque, vendo bem, isso ia-lhe parecer muito mal. Já viu o que era agora a Segurança Social responder-lhe pelo Facebook para todo o povo ver? Não ia ficar chocada por nem uma cartinha registada receber, em vez de ser enxovalhada em praça pública? Diga lá, a primeira coisa que ia pensar era que os seus impostos já nem para uma carta servem, não era?
Venho por este meio, muito agradecer a carta recebida em nome da minha mãe, a avisá-la que há mais de 3 anos que não se apresenta em nenhuma unidade de saúde de cuidados primários da Administração Regional de Saúde, e por isso irá perder o direito ao médico de família.
Se começarmos sem ironias talvez seja um melhor ponto de partida para eu a respeitar, que me diz? (Gosta da minha própria ironia em já ter sido irónico antes a senhora o ser?). Acha que a carta que recebeu, apesar de se tratar de um enorme e desagradável equívoco, foi redigida sob o manto do sarcasmo e malvadez? Acredita mesmo que as pessoas que trabalham neste serviço têm apenas a triste sina de existir para a perseguir e enxovalhar?
O primeiro conselho que lhe posso dar é que não deve personalizar isto. Acredite no que lhe digo, não são os indivíduos que estão mal, é o sistema. Sim, essa coisa abstracta que não faz a mínima ideia do que é, é que está mal, muito mesmo. E as pessoas que aqui trabalham, por mais que não acredite, são tão vítimas quanto a senhora.
Não há aqui um Funcionário Público que não seja cidadão, como a senhora. Todos nós precisamos de ir às finanças, à junta de freguesia, ao hospital, à segurança social e, pasme-se, também nós recebemos cartas como esta que, infelizmente, recepcionou. E nós, queixamo-nos a quem?
Venho informá-lo que o motivo desta falta de comparência, nas unidades de saúde, deve-se ao facto de ela ter falecido há 7 ANOS !!! Já agora,faleceu num Hospital Público, imagino que você não tenha acesso a esses dados na posição que ocupa, o único motivo que me ocorre para não ter acesso a esses dados, é a sua incompetência e de todo o funcionalismo público que eu pago com os meus impostos !!!
Vejo que anda enganada. Lamento que a sua mãe tenha falecido e que tal tenha ocorrido em ambiente hospitalar, em vez de estar no conforto do seu lar. Mas ainda bem que pode recorrer a um hospital público e não teve de ir desembolsar cinco ordenados e meio num hospital privado onde, com certeza, a assistência à sua mãe não teria sido melhor e o milagre da ressurreição também não seria feito. Ainda bem que não reclama dos serviços prestados pelo hospital e por todos os seus funcionários que, não por acaso, até são públicos. E, não raras vezes, muito mal pagos. Mas lá continuam, a fazer o melhor que podem e sabem com o ordenado que a senhora diz ajudar a pagar, tal como eles, como contribuintes que também são. E aproveito para lhe perguntar: se se dirigisse a um centro de saúde para obter um médico de família e lhe dissessem que não existe nenhum disponível, porque metade da lista de pacientes já faleceu mas continuam ali a fazer número, não ficava indignada?
Ou melhor: se tivessem retirado a sua mãe da lista de pacientes sem lhe dar sequer a oportunidade de dizer o que se lhe oferecesse, não ficaria também chateada "porque nem sequer me disseram nada!"? Vendo bem, isto é só falar mal por falar, e não lhe vejo nenhum comentário ou crítica construtiva que nos ajude a melhorar o serviço. Até aqui não estou a ver onde é que o "funcionalismo público" foi incompetente no serviço que lhe prestou. Espero ser surpreendido já a seguir.
CASO TENHA DÚVIDAS SOBRE O SEU FALECIMENTO, consulte as finanças e a segurança social (informadas 2 dias a seguir ao seu falecimento), tendo em conta que hoje em dia existe uma coisa chamada rede informática, não dará muito trabalho cruzar dados, mas como vocês não conhecem a palavra trabalho, só fazem figuras tristes como estas e fazem-nas com o meu dinheiro e sem qualquer tipo de qualidade e profissionalismo do trabalho que desempenham, não querem saber de nada nem de ninguém (esta carta inútil, desnecessária, de mau gosto, insensível e de incompetentes, foi paga com o meu dinheiro, e eu estou sinceramente farta de sustentar todos os otários queconseguiram um trabalho porque souberam "chupar" no sitio certo !!!).
E pronto, descambou!
Compreendo que trabalhe num local com poucos funcionários. Compreendo, por isso, que desconheça o conceito de "ofícios ou minutas-tipo". Não nos tendo sido solicitado algo em particular, e tendo sido de nossa iniciativa contactar os pacientes, é prática comum e banalizada entre todos os países, até os dito civilizados, enviar ofícios com o mesmo texto para todos os cidadãos. Ou acha que vamos vasculhar e cruzar os dados informáticos de dez milhões de pessoas, uma a uma, para ver se não melindramos ninguém? Minha senhora, quando se lidam com milhões de pessoas, é assim que se faz, pareça mal ou bem. O que há são maneiras mais ou menos evoluídas e civilizadas de lidar com as situações. Creio que sabe onde se situa a sua.
Não estamos a falar de uma gestão doméstica. Por isso a palavra "trabalho" é, de facto, diferente para nós e para si. Porque o nosso trabalho tem uma dimensão à qual não consegue chegar, nem com muito boa-vontade, que ainda por cima não a tem. Mais uma vez, creio que poderia ter sido mais construtiva e até educada na sua carta. Poderia, tão simplesmente, ter-nos poupado tempo a dar-lhe esta resposta, agora sim, personalizada, e ter ido directo ao assunto e referido que, face ao falecimento da sua mãe em data tal, considerava o ofício extemporâneo. E pronto. Simples assim. Está aborrecida por receber uma carta que demonstra desconhecimento de um falecimento ocorrido há sete anos, mas não consegue dizê-lo sem perder a razão.
Quanto aos insultos que se seguem, minha senhora, recomponha-se.
Vou começar pelo fim: Minha senhora, não chupei nada a ninguém. E digo-o assim sem aspas nem nada. Mas tenho muita pena. Se me tivesse sido dada a oportunidade de chupar um ou dois "ligueirões" (agora sim com aspas que é para não pensar que andamos a consumir bivalves à conta dos contribuintes), talvez estivesse mais bem posicionado na minha carreira. Por outro lado questiono-me: para o posto máximo no Estado, que é ser-se Presidente da República, o que será necessário chupar? É que para se chegar a Primeira Dama todos sabemos o que se chupa, agora para Presidente não estou a ver. Não sei se a minha amiga tem capacidade para perceber o que lhe estou a querer ilustrar com esta história do chupar mas vou deixá-la a pensar um bocadinho, em vez de lhe facilitar tudo.
Sobre a totalidade do seu raciocínio "estou sinceramente farta de sustentar todos os otários que conseguiram um trabalho porque souberam "chupar"", como eu a compreendo. Também estou farta de ser FP, chupado, e ver os outros a subirem à minha conta. Mas cada um colhe o que semeia. E este ano não tem sido bom de colheitas.
Agradeço que comecem a trabalhar que é algo que eu faço desde os 17 anos. Nunca recebi um tostão do estado, nem quando a minha mãe esteve a morrer e a minha família deu o que tinha e não tinha para lhe proporcionar alguma qualidade, no momento que mais precisou, depois de ela própria ter descontado uma vida inteira. Porque vocês acharam que a pensão de miséria que ela tinha direito, por invalidez, chegava mais do
que bem para tratar de alguém completamente acamado, aos cuidados de terceiros e em estado vegetativo !!! Muito obrigado por fazer a minha família reviver isto novamente !!! Já agora todos os cuidados pagámos nós de forma privada !!
Porque é que haveria de receber um tostão do estado? Trabalha no estado para ter de ser remunerada? É que tirando isso também nunca recebi um tostão do estado, muito pelo contrário. Quanto à assistência que prestou à sua mãe, creio que é o esperado de qualquer pessoa de bem. Não preciso nem vou ofendê-la quanto a isso.
Tenho vergonha ao que este país chegou ! E são pessoas como o senhor que deveriam estar no desemprego, pois pelos vistos nem para cruzar listas de dados, o senhor tem capacidade !!!
Santo Cristo! Tanto histerismo por causa de uma falha no cruzamento de dados, erro que, com certeza, nunca aconteceu em parte nenhuma do mundo, mesmo nos ditos países civilizados. O único comentário que me apraz fazer neste momento é este: Parabéns!
Parabéns por nunca ter cometido um erro na sua vida profissional. Quer vir trabalhar connosco e servir a nação portuguesa, que, nas suas palavras, tão vergonhosamente se encontra mal tratada por nós?
Em relação ao desemprego - que seria uma longa história - é redutor achar que merece estar no desemprego quem não sabe cruzar dados e que, como tal, o contrário é que seria válido. Pense lá bem nisso. Não seja tolinha e não ofenda as pessoas habilitadas e capacitadas que neste momento estão desempregadas.
Divulgo isto no Facebook, porque imagino que é onde passa o dia, e assim mais depressa lhe consigo transmitir a minha mensagem do que por uma carta registada !!!
Exactamente. Precisamente. Tem tempo para ir às redes sociais e já nem acredito que o tenha feito na sua hora de expediente, face à competência imaculada pela qual se rege. Que bom para si. Infelizmente, para mim claro, eu não tenho tempo nem permissão para ir a redes sociais. Nem dentro das horas de expediente, nem fora delas. Pensando bem, retiro-lhe o convite para vir trabalhar connosco.
Agradeço a toda a gente que divulgue isto, porque é para merdas como estas e merdosos como este senhor que todos os meses temos menos dinheiro para viver, é para estes incompetentes andarem a fingir que trabalham e a gastar mais uma vez, MAL, o nosso dinheiro, que nós todos os dias andamos a contar os cêntimos !!!!!!
Cá está: displasia da anca. Começou a baixar, perigosamente, o nível. Felizmente que a sua "carta" enviada pelo Facebook está a terminar.
Pensando melhor, a Segurança Social vai começar a responder a todos os cidadãos através das redes sociais. Porque se por causa de uma carta enganada é que todos os portugueses têm menos dinheiro, então não seja por isso, acaba-se já com as cartas.
Agora repare: onde é que o facto de nós nos termos enganado no envio de uma carta à sua mãe, faz de nós, ou da função pública em geral, uns merdosos? Explique melhor. Tenho tempo. E sabe, realmente, qual a extensão de de serviços prestados por FP's? Sabe quantos amigos, conhecidos e familiares acabou de colocar no saco dos "incompetentes" com essa generalização?
E onde crê que nós "gastamos" o seu dinheiro? Nos nossos ordenados? Até ver o trabalho no Séc. XXI é remunerado com dinheiro, portanto, é com dinheiro que têm de pagar o meu trabalho que, goste-se ou não se goste, é trabalho. As nossas tabelas salariais, possivelmente ao contrário da sua, estão disponíveis na internet para quem quiser ver. Não é segredo. E até seria interessante tomar conhecimento delas e passar a ter ideia de quantos de nós auferem o ordenado mínimo. Acredite, o patrão privado que tem, ganha dez vezes mais que eu.
Já agora o código de activação que envia na carta, para ela poder avisar que pretende ainda ser vista nas unidades de saúde, pode metê-lo num sítio onde o sol não entra, espero ter sido clara !!!"
Falta de educação não faz parte do nosso modus operandi nem do nosso modus vivendi.
Mas mais uma vez parabéns: acabou-me com a paciência.
E agora, queridos e queridas, querem dizer-me o que pensam sobre isto?
Vá, mas sem tiros nem chibatadas, que somos todos gente civilizada e nascidos do mesmo pai.
E prometo não vos maçar com coisas tão longas quanto esta.
Sempre pronta para vos servir,
A Funcionária Púbica