terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O mundo só precisa de mim. Amo-me. Adoro-me. Preciso-me.


Hoje tive um encontro de família. Desta grande família que são todos os serviços da administração pública. Como em qualquer família, existem sempre aqueles primos de que nunca ouvimos falar, a sobrinha neta de uma avó, e gente que nem há grau de parentesco que os acuda. E, como em todas as famílias, há sempre aqueles empecilhos que, apesar de odiarmos, não temos outro remédio que não seja conviver com eles diariamente.
Lá me sentei com o meu agregado familiar numa mesa e, como sorte nestas coisas tenho pouca, na mesa ao lado sentaram-se os nossos primos ricos, cheios de peneiras, sangue-azul e um rei na barriga do tamanho do Bom Jesus de Braga. Aqueles com que temos de lidar todos os dias, sem possibilidade de fingir que não existem.
Enfim, é o tipo de encontro que evitamos, no entanto, como eles são cheios de maneiras vêm sempre cumprimentar-nos e dizer que somos uns c'ridos e que trabalhamos imenso e admiram imenso a nossa garra e contributo para esta sociedade tão hostil.
Ora bem, eu, nascida num campo de tomate em dia de tempestade, tive vontade de lhes dizer para se irem montar num grandessíssimo caralho, que sei que aquilo é tudo fachada, que são uns fingidos, e estão mortinhos para nos ver pelas costas para poderem abraçar a grandiosa herança desse nosso patriarca, que é o Estado.
Na verdade não lhes invejo as pretensões porque, qualquer pessoa no seu perfeito juízo, quer herdar tudo menos dívidas, mas adiante.
Pois bem, nisto de termos de conviver e dependermos deles diariamente anda a causar-nos grandes agasturas. Primeiro, porque como são da nobreza acham que todos os outros são criadagem às suas ordens. Depois, não são pessoas com quem se possam discutir ideias e ter opiniões distintas porque subestimam todos os que estão à sua volta. No meio deste tornado de comunicação unilateral ainda temos problemas da surdez, de megalomanismo, de intolerância, de arrogância, enfim... um quadro clínico preocupante.
Tempos houve em que tentei aliciá-los com terapia familiar, juntarmo-nos, conversar, chegar a consenso sobre uma série de assuntos, e até apresentei umas quantas soluções e tratamentos alternativos. Mas os cagarolas lá continuam a mandar vir sem nem querer saber o que é isso do "serviço público", nem da cooperação entre os serviços para um bem maior, que não o do nosso quintal. Pensarmos todos juntos com a finalidade de atingir um mesmo objetivo é que não.
Há c'ridos, que estão demasiado ocupados a gostar de si mesmos em vez de admitir que o mais produtivo era gostarmos todos uns dos outros. E eu, que não estou para merdas (já tinha prometido que não dizia mais merda, porque é um horroooor!) hoje virei a mesa ao almoço, mandei um arroto, limpei a boca à toalha e soltei um traque ao levantar-me.
Pode ser que assim, finalmente, alguém repare que enquanto não conversarmos todos de maneira civilizada eu não vou alinhar mais em almoços de família.







Quem pensa que a grande família da Função Pública rema toda para o mesmo lado, está enganado.
Dentro desta mesma família existem muitas famílias. Umas relacionam-se bem com as outras e depois há as que se tentam dizimar entre si. Há jogos de força e de poder incompreensíveis, inadmissíveis, cuja finalidade - apesar de supor qual é - não consigo compreender. Não compreendo o atropelo, a falta de respeito, a falta de profissionalismo entre funcionários da mesma casa. Não compreendo porque é que as várias entidades e serviços, que por vezes até trabalham para os mesmos fins, se tentam boicotar.
Continuo a acreditar, até que me demonstrem o contrário, que isto corre tudo muito mal entre entidades porque cada indivíduo que exerce o seu pequeno poderzinho, dentro de cada uma delas, pensa antes de mais em si e naquilo que lhe convém. E quando gente que nunca mandou em nada - nem mesmo na casa deles - têm umas migalhas de poder, coisas miseráveis até, exercem-no com toda a arrogância e maldade. Querem mostrar-se e puxar o lustro ao seu amor-próprio que, não raras vezes, anda pelas ruas da amargura. Há gente a mandar, em posições de relevo ou não, que não sabem o que querem. Só sabem que o mais importante no mundo é que alguém veja que eles existem, nem que seja pelas decisões mais idiotas e irreflectidas.
As pessoas estão é muito cheias de si mesmas e acreditam, cada vez mais, que não precisam dos outros. Que se é para brilhar, que seja sozinho.


P.S. - Vem-me sempre à ideia a imagem de uma cadela a dar de mamar a muitos cães e, quando as mamas já não chegam para todos, começam a brigar entre si.



Sempre pronta para vos servir,
A Funcionária Púbica



2 comentários:

  1. Olá FP.

    Venho aqui ao seu cantinho todos os dias, à procura de algo de novo e...nada! Que se passa consigo? Gostava de a ler. Não abandone a ideia, continue com o blog!

    Maria

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    Respostas
    1. Apanhou-me na curva.
      Acabei de regressar mas aviso-a já que sem nada para dizer.

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